De repente, na paisagem árida da rua com asfalto esburacado e casas sem jardins ou árvores, o lenço colorido na cabeça daquela mulher chamou atenção. Tinha estampas indefinidas, mas de cores com uma combinação tão forte que era impossível não olhar. Então, para ele, o resto sumiu e o lenço ficou, mas cada vez se distanciando mais. Mastigou o último pedaço de pão, limpou a boca com as costas da mão direita e saiu correndo na direção dele. Não sabia o motivo, mas foi. A dona do lenço apertou o passo. Ele, mais ainda. Quando estava a cinco metros do objetivo, inebriado pelas cores, sentiu um pingo de chuva no rosto. Logo depois, o temporal desabou. Por um instante ele perdeu de vista o lenço. Quando conseguiu ver a mulher... nada na cabeça dela, apenas cabelos molhados. Ele a alcançou. Era muito bonita. Tinha olhos verdes, boca carnuda. Ele perguntou sobre o lenço. Ela disse que a chuva tinha desmanchado. Era de papel.
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