quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O bode

O bode veio por causa do bode. Vi o bode através da cortina de renda. Fiquei ali no silêncio do campo. Ele pastava na beira do lago. Era preto. De repente, empinou. E ficou durante muito tempo apoiado nas duas patas traseiras. Depois pulou no lago e nadou de costas. Eu olhei aquilo e achei que era delírio. Fui lá perto. Não era. O bode agora nadava de peito. No fim da tarde, estrelinhas brilhavam na água. Verifiquei o lugar onde o bode pastava. Tinha o resto de uma planta. Peguei, coloquei na boca e comi. Não demorou muito e vi um pote trilhar o arco-iris. A paisagem em volta sumiu sob meus pés. Ficou a água flutuando na minha frente. Com o bode. Ou melhor, as pernas do bode. Entrei na água. Não me molhei. O bode enfiou a cabeça dentro da água e falou. Mandou eu ir dormir. Fechei os olhos. Acordei no dia seguinte deitado embaixo da cortina de renda. Levantei. Olhei para fora. O bode estava pastando naquele mesmo lugar de não sei quando. Senti uma dor de cabeça violenta. O corpo moído. Estava de bode.

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