sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Meleca

Se o Papa pode... Ele viu a imagem do santo Francisco. Como um criança, sem se importar com a multidão, tirou meleca do nariz, como se fosse um cirurgião meticuloso, olhou o produto e depois comeu. Salgado? O ato rendeu comentário em jornal, mas o que importava para ele o que alguém comentava sobre este ato do Papa? Na memória não lembrava ter feito aquilo no tempo em que brincava com os pés na terra. Resgatou, sim, a imagem de um moleque da turminha que tinha inovado o consumo da iguaria ao colocar amendoim na cavidade nasal - de onde tirava, com precisão, um produto caramelizado para consumo próprio. Pensou tudo isso enquanto se olhava no espelho e pensava se a produção própria de meleca com consistência média tornava-se perigosa para um senhor com mais setenta anos. Tomou coragem e tentou. O dedinho, inchado pelo peso dos anos, só conseguiu penetrar até o limite da unha. Tentou achar algo. Não conseguiu. Ficou triste. Tirou. Lavou as mãos. Olhou-se de novo. Um fio transparente estava pendurado desde a narina esquerda. Tocou com a ponta da língua. Sentiu o gosto. Não sabia se era a mesma coisa.

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