terça-feira, 27 de agosto de 2013
Relógio do mar
O costume de sempre. O primeiro mergulho no mar era demorado. Abria os olhos lá embaixo e conversava com Iemanjá. Fez isso novamente e descobriu depois que o relógio não era tão à prova d'água como até então parecia ser. Todo em aço, mostrador branco, estava parecendo uma piscina redonda com ponteiros e números no fundo. Amava aquela máquina. Tinha vários botões, mas ele nunca utilizou nenhum, nem sabia para que serviam. Levou para casa e o deixou na mesa de trabalho, ao lado do telefone. Todo dia dava uma olhada para acompanhar os efeitos da água do mar. O líquido sumiu. A ferrugem apareceu e foi tomando conta de tudo. Ele passou a usar o relógio que não marcava mais horas, mas mostrava aos amigos como se fosse uma peça rara. Nunca lhe perguntaram porque os ponteiros eram imóveis. Onze horas e dezoito minutos. Foi numa quinta-feira que, exatamente nessa hora, ela apareceu na tela do computador. E tudo parou. E ele ouviu a ordem na rainha. Depois que as coisas voltaram ao normal, inclusive o reloginho da internet, ele saiu de casa, entrou no carro e percorreu alguns quilômetros para jogar o relógio no mar.
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