terça-feira, 20 de agosto de 2013

Perto do coração

Abriu o alçapão do velho casarão que se mantinha digno no bairro todo modernizado. Estava visitando uma tia e naquela tarde de calor infernal ficou sozinho naquela imensidão de cômodos com portas que rangiam. Era uma criança e o pé direito com 10 metros o tornava ainda menor. Mas xereta. Ele desceu as escadas para um outro mundo, só visto em alguns filmes soturnos. Havia muitos móveis empoeirados, livros comidos por traças, algumas roupas espalhadas por cima de tudo. Abriu uma gaveta e se encantou com o estojo de metal contendo seringa e agulhas. Encontrou num nicho de parede algumas garrafas de vinho. Mas o que lhe chamou a atenção foi um uniforme militar que vestia um manequim cujo nariz tinha desaparecido. Procurou na cintura uma arma - de fogo ou branca. Não havia nada. Vasculhou os bolsos. No interno da jaqueta, em cima do coração, achou uma carta fechada. Sem nome do destinatário ou do remetente. Abriu. As letras eram desenhadas de forma perfeita. Era uma declaração de amor em forma de alegria e lamento. Havia descrição de encontros, mas de forma discreta. No final, a impossibilidade de se continuar o romance. Os dois eram casados. As respectivas mulheres jamais entenderiam.

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