quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Beijo para as árvores
Ao subir as escadas o vento lhe chamou atenção. Saía de casa para o anexo em cima da garagem, onde se escondia e fingia trabalhar. Parou. Olhou na direção de onde vinha. Pela primeira vez reparou as árvores da rua paralela. As copas, umas grudadas nas outras, balançavam pra lá e pra cá. Então ele começou a decifrar a conversa entre elas. Eram poemas em forma de zumbidos, muxoxos, estalidos. Palavras indecifráveis mas que faziam sentido para ele, que parado ficou antes do último vencer o último degrau. Ele ouviu quando uma falou para outra que estavam sendo observadas. E aquilo se espalhou. Então as pequenas flores amarelas se transformaram em olhos. E estes eram doces como as curvas das montanhas na linha do horizonte. Ele sorriu por dentro e por fora porque vivia ali um momento raro e mágico. Então mandou um beijo, assim, como se faz, colando ele na mão e assoprando. O beijo enfrentou o vento e entrou nas árvores. Houve um arrepio e, logo em seguida, um agradecimento. Ele então entrou no escritório, fechou a porta, ergueu a persiana da janela e viu as árvores, agora imóveis. O vento foi embora. Mas elas estavam brilhantes, com a luz da mãe natureza.
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