segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Dos dentes
Lembrou de uma reportagem da revista Realidade que relatava o trabalho de um funcionário do IML do Rio de Janeiro em tratar um caranguejo dentro do ralo do local onde os corpos eram lavados depois da autópsia. Ele engordava o bicho assim, com restos dos corpos, com sangue coagulado misturado com água. Depois, claro que comeu-o com o maior prazer tomando cerveja casco escuro, porque preferia essa às de casco claro. Lembrou porque começou a juntar o que tirava dos dentes depois das refeições. Tinha esquecido de quando a coisa começou, mas passou a ter o cuidado de fazer um bom trabalho com o fio dental e não mais pregar o produto da limpeza no azulejo branco do banheiro. Guardava tudo num lata que antes tinha abrigado um sorvete sabor flocos. A geladeira manteve por muito, mas muito tempo aquele material. Ele morava sozinho, não tinha como alguém mexer na produção. Um dia resolveu dar um destino àquilo. Fez uma sopa para uma visita inesperada e de quem ele não gostava muito. O outro adorou. Ele também. Lembrou do caranguejo do IML. Achou que a criação dele era mais gostosa, mesmo porque não deu tanto trabalho botar pra dentro.
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