quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Nua e descabelada

Foi presa por atentado ao pudor. Virou notícia no jornal porque entrou numa galeria de esgoto e deu o maior trabalho à polícia. Juntou multidão para ver o ocorrido. Aquela multidão que pede para pular quem está no terraço do prédio ameaçando suicídio. Ela estava nua. E era linda. Mas ninguém via o rosto. Descabelada, correu por entre bancários e automóveis. Não chovia. O sol era de derreter a moleira. O fedor do esgoto onde ela entrou era intenso, mas havia árvores em volta. Vieram os bombeiros. Entraram. Tiraram a moça, agora coberta por um plástico preto. Quando retornou à luz do sol, um policial pegou no queixo dela e ergueu o rosto. Ao afastar os cabelos, houve um silêncio no mundo. Ela tinha barba cerrada. Naquela hora, o caminhão velho do circo mambembe estava bem distante. O dono não queria assumir o filho que estava começando a crescer na barriga da descabelada.

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