terça-feira, 19 de novembro de 2013
Na área de preservação
O barco de alumínio com os três flagelos singrou as águas da baía na noite escura feito breu. O que tinham bebido não estava no gibi. Saíram quando um temporal se armava, apesar das recomendações contrárias. O motorzinho de popa gritava como um bicho a pedir socorro. Fantasmas de navios apareciam de repente como monstros saídos de um filme japonês. Uma luz nas trevas fez o comandante bêbado embicar o barco naquela direção. Na ilhota o casebre era o único a ter vida. Era um arremedo de boteco onde os três beberam mais e contaram que estavam indo para uma fazenda no pé da serra em área onde não se podia arrancar uma folha de grama, por causa dos ambientalistas. Quando saíram a chuva tinha apertado e as pequenas marolas quase afundaram o barquinho. Voltaram. Encharcados dormiram dentro do bar. No outro dia, de sol, saíram e enveredaram por riozinho que desembocava no mar. Chegaram à fazenda. Caminharam até uma casa que serviu de moradia para o dono, um dos três flagelos. Mais tarde comeram carne de tatu ensopada. Um dos três gostou de uma flor e ao chegar perto para sentir o perfume, foi picado na testa por um maribondo. Urrou de dor. Naquela hora sentiu que estava em outra dimensão, a dimensão dos bêbados. Tomou mais um gole e assim foi, junto com os outros, por uma semana. Até que conseguiram voltar. Como flagelos, para a cidade grande. Estavam bem diferentes. Inchados de cachaça.
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