quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A mensagem

O velho começou a respirar de forma descompassada e ofegante no leito da enfermaria do hospital perdido no meio do nada. Ergueu o braço esquálido e chamou o filho que estava sentado numa cadeira ao seu lado. Os olhos de todos os outros doentes seguiram o movimento do rapaz encostando o rosto perto da boca murcha do pai. Este falou alguma coisa e depois foi retirado dali pelos enfermeiros sob ordem de um médico de jaleco sujo. Para ninguém ver a morte chegar. O filho ficou estático, olhar perdido, retendo as lágrimas que derramaria mais tarde, em casa, quando recebeu a notícia fatal. Os outros doentes pensaram uma só coisa: que diabos o velhote tinha falado para o filho? Entre o hospital e o casa, que distava uns quatro quarteirões, o jovem foi andando como se passeasse por uma alameda em Marte. Pensava só na mensagem que tinha ouvido perfeitamente. Ao chegar, abriu o portão e um irmão lhe perguntou: "E aí?". Ele então respondeu: "Quem comprar a paca cara paca cara pagará; pagará a paca cara quem paca cara comprar".

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