quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
O leque
Ele tirou um leque do bolso interno do paletó, abriu e colocou na frente do rosto, deixando espaço só para os olhos azuis claros e límpidos. Estava no salão que antecede a entrada do grande teatro. Todos os olhares voltaram-se para ele. O que fez, então? Deu uma abanadinha e foi procurar seu camarote. Ficou ali durante todo o espetáculo sem mexer um milímetro da posição do leque. Se ninguém o tinha notado antes de abri-lo, agora já não importava mais se o que era apresentado no palco era balé, ópera ou concerto sinfônico. A platéia toda só tinha olhos para ele. Antes de as luzes se acenderem, saiu e se colocou numa posição estratégica para que o público desse de frente com ele ao se retirar. Todos o viram. E pararam. Pareciam hipnotizados. Então, ele fechou o leque, guardou no bolso de onde o tinha tirado, e abriu um sorriso que ninguém jamais esqueceu. Porque sem dentes.
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