segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
Para o santo
Pediu uma dose, olhou o líquido contra a luz da lâmpada toda salpicada de bosta de mosca, jogou o do santo no pé do balcão e, quando ia beber tudo num gole só, como sempre fazia, ouviu uma voz que parecia sair ao lado do bico do sapato surrado: "Só isso? Quero mais!" Era a primeira que tomava no dia, depois de camelar na obra que ficava a pouco mais de um quarteirão da porta do boteco. Ele tentou repetir o gesto que fazia há anos, ou seja, de virar a mardita cachaça de uma só vez, para depois fazer uma careta, limpar a boca com as costas da mão e finalizar o ritual cuspindo no chão perto de onde a oferenda tinha caído. Mas a voz falou mais alto - e ele parou. Colocou o copo no balcão, se agachou e perguntou baixinho, pra ninguém pensar que estava pinel: "Que porra é essa?" A voz respondeu que era o santo que gostava de pinga - e queria mais. Ele então perguntou o motivo. "Eu era santo. Não sou mais. Agora sou bêbado e fui expulso do time. Estou perdido e com sede. Manda mais uma e pare de me encher o saco". Ele então pegou o copo, despejou tudo de uma só vez no mesmo lugar de onde parecia sair a ordem, e foi embora. Nunca mais bebeu.
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