terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Oi, vô!
Embaixo da cama ele se escondeu. Medo de uma visita que o deixava envergonhado. Ficou lá por horas ouvindo as falas de desespero dos pais, parentes e vizinhos que o procuravam. Caiu no poço? No outro instante estava em cima da cama. Velho. O fraldão apertando a cintura e um cheiro de cocô no ar. Cortinas fechadas. Mas o sol poderia entrar inteiro ali naquele cômodo nos fundos da casa. Ele enxergava pouco. Qual o sentido da vida? Talvez só o filme do Monty Python poderia explicar. Agora era muito tarde. Sessenta anos se passaram entre um momento e outro. A memória era forte apenas para os primeiros anos da vida, mas ele continuava a sentir o cheiro da merda e o fraldão apertando a cintura. De repente uma pequena e macia mão lhe faz um carinho na cabeça. Ele escuta um "oi, vô!" que o transporta através dos tempos, das almas, das vidas. Responde e sorri como se estivesse renascendo no corpo do neto.
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