terça-feira, 29 de julho de 2014

Confissão

Atravessou a rua quando viu a igreja de torres altas. Lá estavam os sinos anunciando a hora. Para ele não era isso. Para ele era o sinal de ali entrar, depois de anos, e se confessar. Estava carregado de pecados, menos roubo e assassinato. Encontrou o frade franciscano curvado pela idade e pelo peso da barba. Disse o que queria. Ouviu como resposta uma pergunta: "É divorciado?" Ele não só era divorciado como já tinha morado e se separado com umas doze mulheres. Brincava que queria ser o novo Vinicius de Morais. O padre disse que ele não podia se confessar. Lei da igreja. Incrédulo, perguntou se teria de ir para o inferno porque tinha se divorciado. O velhinho não respondeu. Virou as costas e entrou na escuridão do templo. No outro dia ele voltou e encontrou outro padre. A mesma pergunta ouviu. Ele disse que não, não era divorciado. Entrou, fez a confissão de todos os pecados que lembrou e, no fim, revelou que tinha mentido. Ao próprio padre. Dito isso, saiu do confessionário sem ouvir a penitência e crente que tinha pavimentado o caminho da salvação.

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