O livro cheirava a mofo e havia túneis feitos por traças.
Foi o único que ele encontrou na casa do bisavô paterno que herdou e estava
fechada há muitos anos. Antes era uma fazenda. Foi engolida por uma cidade e
estava cercada de favelas. Tentaram destruí-la, mas era impossível. Paredes de
pedra, como uma fortaleza. Ele folheava as páginas escritas em latim quando um
papel caiu sobre uma das tábuas largas do piso. Apanhou. Em letra garatujada
estava escrito: “Coisa ruim eu não mastigo, engulo”. Aquilo foi como receber um soco no estômago
da alma, se curvar com a dor, recuperar-se e nunca mais esquecer. Foi
também como o canto de um anjo empunhando uma espada vingativa e com o fio ensanguentado.
Ele então saiu dali, foi para casa e a primeira coisa que fez foi jogar algumas
mudas de roupa na mochila e sair para sempre sem dizer absolutamente nada para
a mulher que o atormentava há 25 anos. Fez isso porque, se ouvisse algo,
poderia lhe quebrar os dentes e ser preso. Engoliu e voou, sabendo que ela
também faria o mesmo.
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