quarta-feira, 16 de julho de 2014
Descompassado pela freira
A madre superiora saía na varanda da casa que abrigava a diretoria e batia um sino ouvido em todo o colégio. Soava como música dos anjos. Recreio ou hora de ir embora. Mas havia mais. Uma das freiras. Toda coberta de preto, só o rosto aparecendo naquela moldura branca. O menino estava no primeiro ano primário e quando a viu pela primeira vez se apaixonou perdidamente. Não queria saber de mais nada e rezava, pedia aos santos, a Nosso Senhor Jesus Cristo, a Deus, enfim, que fizessem com que ela aparecesse todo dia, nem que fosse por uma fração de segundo. Quando isso acontecia, o coração batia descompassado como bongô, como mais tarde ele ouviu e concordou com o poeta Aldir Blanc. Sim, ele tremia mais que as maracas e nunca confessou isso ao padre no sábado porque, não, definitivamente não era pecado. Era como se fosse um milagre que ele ainda não entendia direito, mas sabia ser do lado bom da vida.
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