terça-feira, 5 de agosto de 2014

O grito

Dobrou a esquina e viu na praça da vila o ônibus parado. Leu de longe que ali dentro encontraria bichos ferozes da Amazônia. Pelo estado do veículo, deduziu que já devia ter rodado o Brasil inteiro. Perto da entrada, uma bilheteria improvisada. Dentro, uma mulher com rosto vincado pelo tempo, maquiagem pesada e uma pinta perto do canto esquerdo da boca. Ele pagou e entrou. No lugar dos bancos, aquários e pequenas jaulas. Bicho preguiça não é fera, mas estava lá com aquela cara de coitado. Um peixe elétrico nadava em água turva. Um macaquinho olhava triste num cubículo fedido. Então ele viu a gigantesca e monumental jiboia toda enrolada e sem se mexer no último compartimento daquele cenário nada agradável. Chegou perto e daquele monte enrolado apareceu uma cabeça que abriu a boca. Ele ouviu um grito, teve certeza. Saiu correndo e só parou em casa, ofegante. Nunca mais aquilo lhe saiu da cabeça. Era um grito de socorro.

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