segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Na cabeça
No plantão o enfermeiro vê o senhor de olhos esbugalhados entrar com uma criança no colo. Ele diz que ela precisa de socorro. Ela não precisa de socorro. Está morta. Uma parte do couro cabeludo caiu para a testa e lhe cobre os olhos. O tampo do crânio sumiu, deixando o que restou do cérebro à mostra. O homem entrega a criança e sai em disparada. Um carro da polícia freia na frente do pronto socorro. Prendem o velho, que não oferece resistência. Era o avô do bebê. Os policiais depois contaram o que várias testemunhas viram. O velho segurou a criança com uma mão, ergueu-a para o alto e deu-lhe um tiro na cabeça com o revólver. Não estava bêbado, não estava alucinado, não estava nada. Fez, como se fosse a coisa mais normal. O enfermeiro começou a chorar quando ouviu isso. Já tinha visto de tudo naqueles plantões, mas ainda não tinha conhecido o lado escuro e perverso da alma humana.
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