terça-feira, 25 de novembro de 2014
A procura
Deu um treco nele. Na verdade, o treco foi aparecendo lentamente, como em ondas de flashes de lembranças do tempo em que era adolescente e não sabia qual o rumo na vida ia tomar. Foi nessa época que, forçado pelo pai que sonhava em ver a carteira de trabalho dele assinada, foi a uma dessas agências oficiais de emprego. Preencheu uma ficha enorme onde a única experiência que colocou foi a de ajudante num boteco de bairro, onde servia mais cachaça do que refrigerante. Claro que nunca foi chamado para nada, mas aquilo começou a tomar conta dele cinquenta anos depois. A sensação da inutilidade, da névoa a impedir que visse ou sentisse alguma coisa que o levasse a uma profissão ou trabalho qualquer. E o lugar colaborava - era estranho, um prédio velho com funcionários que pareciam múmias pedindo descanso. Depois disso ele se perdeu na vida, mas encontrou um caminho profissional que nunca imaginou - e só soube que era aquilo mesmo depois de velho, coisa que hoje o faz rir. Mas aquela sensação do começo, da procura pelo que não sabia... ainda dói muito no seu peito.
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