terça-feira, 18 de novembro de 2014

Dinheiro

Uma das melhores cenas de filme que tinha visto foi na abertura de um longa japonês, em preto e branco, em que durante muitos minutos a telona se enchia com um jovem dirigindo um carro e jogando dinheiro pela janela ao sabor do vento. Ali se resumia uma das facetas do caráter do personagem. Talvez aquilo tenha penetrado na sua alma de adolescente, porque ele jamais ligou para o vil metal, o papel fedido, como gostava de chamar. Sim, ganhava o suficiente, mas tirando os livros que comprava e uns panos para cobrir o corpo, distribuía o resto entre quem precisava da família ou alguns desconhecidos que encontrava na rua ou em shoppings e achava que necessitavam muito mais que ele. Uns se espantavam, outros ficavam mudos, poucos agradeciam - mas ele não ligava para isso. Um dia foi surpreendido com a visita de um estranho. Trazia uma bolsa enorme cheia de notas de cem dólares. Contou que sabia o que ele fazia e queria ajudar na distribuição, porque tinha muito além da conta. Era um miliardário, herdeiro cuja fortuna não parava de crescer a cada dia. Ele agradeceu, se despediu, pegou aquela dinheirama e foi para o alto de um edifício na rua mais movimentada da cidade. Subiu, abriu a sacola e, ao olhar o rosto de Benjamin Franklin, jura que este piscou para ele. Fechou a bolsa. Alugou um jatinho e foi para o Oeste do México, mais precisamente para San Andrés, naquela ponta saliente do mapa. Ali não deu um puto de um tostão para ninguém - e se transformou num avarento feliz.

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