segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Catarina

Acordou com saudade da Catarina. Foi seu primeiro carro. Ele batizou assim porque, para ele, era muito parecida com uma carroça. A Catarina era uma perua Variant de faróis retangulares. Comprou da sogra e ficou dirigindo-a por cinco anos sem ter habilitação. Foi com ela que passou o maior sufoco na estrada ao ver parar de funcionar o limpador de para-brisa numa noite de muita chuva - e na subida de uma longa e perigosa serra. A sorte é que era final de férias e o trânsito intenso. Guiava-se pelas lanternas traseiras dos carros. Não podia parar. O filho pequeno estava adoentado e precisava chegar em casa. Chegou. São e salvo. A Catarina também. Nunca bateu em outro carro. Só num poste. Foi no tempo em que ele passou a se afundar em álcool. Destruiu o carro totalmente. Ela foi para o ferro velho. Ele acompanhou durante anos o desmonte do que sobrou. Sempre fez um sinal da cruz ao vê-la. Hoje anda de carrão com alta tecnologia embarcada - e morre de saudade dela, a Catarina querida. 

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