quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A voz

Foi um técnico em computação que deu para ele o fone de ouvido zero bala. Dentro da caixa. Coisa simples, falou o sabichão, depois de limpar a máquina e lhe cobrar uma dinheirama pela visita. Ele esperou o malaco sair, enfiou os plugs nos buracos e, quando quis ouvir Vicente Celestino cantando Noite Cheia de Estrelas e Silvio Caldas interpretando Velho Realejo, surgiu uma voz que era mais doce do que a da Iris Letieri nos aeroportos. Não distinguiu as palavras saíam da boca de uma mulher ou homem - e isso não importava. É que eram ordens: para que procurasse certos endereços na internet, se comunicasse com algumas pessoas, enfim, eram determinações que ele obedecia mesmo sem querer, porque seus dedos trabalhavam automaticamente a Remington, como ele chamava o seu PC. Não havia nenhuma conexão entre tudo o que via, ouvia e escrevia. Até o dia em que a voz ficou um tempo sem falar através dos fones. Ele se preocupou. Estava acostumado. Então, depois de um longo silêncio, ouviu:"É isso" - e nunca mais a escutou.

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