segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Canção de ninar
A concha gigante estava em cima do frigobar. Na frente dela, uma folhinha Seicho-no-Ie dizia que salvando o próximo, com certeza você é o maior beneficiado. Ele abriu a porta e viu a garrafa de vodca. Abriu a tampa e virou num gole que demorou uma eternidade. Estava sozinho no mundo e tinha salvo uma infinidade de pessoas que cruzaram seu caminho. Ele mesmo… Perdeu tudo, ou seja, perdeu a capacidade de amar o próximo – por isso arrancou Cristo da cruz e o jogou num rio/esgoto depois que lhe tiraram um filho estupidamente. Nem bala perdida. Tiro por vingança. Ele não sabe de que, porque jamais cometera algo pesado contra alguém. O filho era um anjo em forma de gente. Único, fruto de uma noite louca num passado distante onde ele e a mãe, que sumiu no mundo, beberam e se encontraram no entorpecimento. Por isso voltou a se embriagar por não ter coragem de se matar, apesar de tentar. Pegou a concha. Colou o ouvido. Ouviu uma canção de ninar. Levou-a para a cama. Dormiu com a música. Era o menino cantando.
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