quinta-feira, 13 de novembro de 2014
Parte de Manoel
Ele leu e se sentiu o prego usado, enferrujado e torto mais importante do mundo. Ele leu e agora era o pente jogado num terreno baldio e onde bichos passavam sem ao menos cheirá-lo. Ele leu e era pedra falante, era olho globo terrestre de bicho, era o canto a proteger a mata, o rio a invadir silêncios, o menino a entender o andarilho louco, o sapato a caminhar sozinho na floresta. Ele leu porque aquela poesia um dia vai chegar a todas as almas, porque era uma invenção da invenção do invento. Ele leu porque aquilo lhe deu a exata dimensão do nada que todos somos – daí as palavras para dar uma forma a tudo. Ele leu porque o poeta entrou pelo outro lado e desinventou – para tirar essa armadura. Ele leu e se fez parte.
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