sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Doença noticiosa
Não sabe como começou a ficar doente. Não sentia dor, mas a cada dia tudo ia perdendo a cor, interesse, brilho. Foi a todos os médicos possíveis e fez os exames. Nada! Psiquiatras, psicólogos, pais de santo, padres, pastores, ninguém conseguia identificar a origem daquilo. Um dia, descobriu. Foi por acaso. Tinha o costume de acompanhar o noticiário do Brasil e do mundo nos jornais impressos que assinava, nos sites, nos informativos de rádios e televisões. Por esquecimento, deixou de ler as páginas que chegavam de madrugada no jardim acondicionadas num saco plástico transparente. Quando se deu conta, estava mais esperto. Não ligou o computador, manteve o rádio mudo e a televisão como um quadro negro na parede da sala – para testar. Se sentiu tão bem, tão vivo, tão radiante, que foi dar uma volta na quadra e viu o quanto estavam belos os jardins dos vizinhos e as árvores das ruas. Sorriu e decidiu que nunca mais iria acompanhar as desgraças do mundo em forma de notícias. Só não contava com o telefone. No dia seguinte, logo cedo, um amigo ligou: “Viu que foi preso?”
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