segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Gourmet
A onda gourmet chegou à casa dele. Uma filha disse que iria preparar um sanduíche especial. Ele ficou na dele, esperando do quarto o chamamento para a degustação. O espaço gourmet era uma cozinha cujo fogão estava prestes a matar os ocupantes da casa. O vazamento de gás era terrível. Os armários se esfarelavam. O microondas era do tempo em que se colocava lenha para fazê-lo funcionar. Ouviu uma barulheira. Ela era assim mesmo. Quando foi chamado, quase não enxerga nada no espaço gourmet, tal a quantidade de fumaça. Mas como tudo era moda, comparou a coisa ao fog londrino. Foi para a mesa. Ela não trouxe um sanduba, mas um prédio com vários andares. Ele comeu tudo. Estava muito bom. Quando acabou – e ficou triste e com a barriga estufada, veio outro. Não quis decepcioná-la. Este era maior, com os três tipos de queijo, ovos, bacon, cebola frita, maionese especial, etc. Terminou e se arrastou até o banheiro. Se olhou no espelho. Pensou que iria ter um enfarte. Voltou para a cozinha. Ferveu água e fez um chá de boldo bem forte. Uma dor embaixo do seio direito incomodava-o. Dormiu assim mesmo. No outro dia, mais chá de boldo. No meio da manhã foi ao banheiro e lembrou de uma descrição de Ronald Golias sobre os tipos de produto interno bruto produzidos pelo ser humano. Aquilo que tinha feito não se enquadrava em nenhum deles. Deu a descarga, gastou um tubo de Bom-Ar para não incomodar o bairro e foi dar uma caminhada. Mais tarde a filha perguntou se ele toparia nova experiência. Ele perguntou o que ela pretendia fazer. “Buchada de bode”, respondeu a menina. Ele foi educado e disse que não estava se preparando para ser candidato à presidência do Brasil.
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