terça-feira, 16 de junho de 2015
A última paçoca
Quem comeu a última paçoca? O grito foi ouvido até do outro lado da rua. Gutural, como se dizia no tempo do Underground, ou seja, quando Tião Macalé tinha dentes. Ele tinha escondido a última no fundo da gaveta onde jogava todos os cartões de visita e contas pagas. Viciado era - mas duro também. Comprava de caixa, naquelas lojas onde se vende doces de pacoteira para bares da periferia ou aniversário de pobre. Comia uma por dia, sagradamente. Quem comeu a última paçoca?, berrou de novo. O grito bateu nas paredes e só não voltou porque ele saiu da minúscula cozinha, onde tinha revirado tudo, e partiu para procurar no quarto e até no banheiro. Nada. Ele então se jogou no sofá que tinha uma lençol em cima para cobrir as marcas do tempo e ficou olhando para o teto e para o nada ao mesmo tempo. Sentiu de novo o gosto dela na garganta, mas não quis gritar mais. Foi então que lembrou que morava sozinho - e que a última paçoca ele mesmo tinha comido no dia anterior, logo depois da penúltima.
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