quarta-feira, 10 de junho de 2015

A dor

Imaginou que a dor era a mesma causada por um tiro. Não houve impacto, ela apenas apareceu e, no terceiro dia, estava insuportável. Naquele pedaço do corpo parecia haver um bombeamento especial de sangue no local que mantinha o latejamento. Tentou remédio, bolsas gelada e fervente - nada fez efeito! Como poderia trabalhar sentindo aquilo? Tudo tinha desaparecido e sua mente estava concentrada ali, naquele canto da cabeça, como se o local quisesse provar que poderia dominar tudo. E dominava, da forma mais terrível possível. Não lembrava mais a última vez que sentira dor em algum dente. Pensou nisso também porque talvez fosse parecido. Ali, naquela cavidade, havia um bicho feio com os dentes cravados na cartilagem e balançando a cabeça como um cão raivoso depois de morder a presa. Apelou para uma reza no nicho cheio de santos. Em vão. Tentou lembrar o que poderia ter deflagrado tal situação. Aí lembrou não só do cotonete, mas do personagem do comediante Agildo Ribeiro que se transformava ao introduzir a haste com cabeça de algodão num dos ouvidos. Foi isso que ele fez, tentando a imitação para ele mesmo ver no espelho. Bem feito!

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