segunda-feira, 29 de junho de 2015

Animal!

Queria ser famoso, celebridade, essas coisas de agora. Quinze anos. Entrou numa academia. Como era pobre de subúrbio da caixa prego, teve de ir para uma que se chamava Hércules. Os pesos estavam enferrujados. O dono tinha sido mister Carapicuíba em 1953. Estava entrevado e babava por um canto da boca. Mas os exercícios estavam lá. Ele puxou ferro durante três anos, cinco horas por dia - e ainda tomou umas bombas feitas para encorpar jegues a fim do abate para exportação de carne a países asiáticos. Um dia viu um cartaz escrito à mão num poste da vila. Teste para atores de novela. Ele foi. Tirou a roupa, mostrou o corpão dentro de uma cuequinha que comprou numa liquidação no supermercado, onde pagou R$ 6,60 por três e levou quatro. Disseram que foi aprovado e que no dia seguinte ele começaria as gravações. Estava lá. Era num quarto de motel vagabundo, tipo Iglu Inn. Tinha um cineasta com uma câmera na mão e uma mulher de 40 anos que só podia ficar com os braços esticados para cima para que mantivesse a altivez mamária. Ele encarou a missão. Recebeu elogio do diretor pelo desempenho. Da mulher, não - ela preferiu sair para fumar. Ele voltou para casa feliz. Lhe disseram que grandes atores de Hollywood começaram assim. Da Globo não conhecia nenhum, mas a emissora não deixa divulgar um treco desses. No dia seguinte tinha outro capítulo. Lhe informaram que ia ser sexo animal.

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