quinta-feira, 11 de junho de 2015

Estômago

Ainda bem que ouvido não tem estômago. Ele leu aquilo e foi como se uma flecha com veneno tivesse atravessado seu cérebro. Pensou: como alguém consegue tal poder para nos desnortear? Foi o irmão que mandou na tela branca do computador. Assim, sem mais nem menos – e ficou em silêncio, sem explicação, que também não foi pedida. E se tivesse estômago, o que aconteceria? Ele pensou logo nas conversas de políticos, nos gritos dos militantes, na arrogância das ordens policiais, nos xingamentos entre desconhecidos no trânsito… Sim, pensou em coisas ruins, porque aí o ouvido poderia vomitar. Mas as declarações de amor fariam tão bem, alimentariam o estômago da alma. Êpa! O ouvido tem alma ou é da alma? Estava pensando em tudo isso quando lhe colocaram bem na frente o prato que pediu naquele restaurante caído: rabada com polenta e agrião.

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