quarta-feira, 3 de junho de 2015

Neblina

Chegou com os primeiros raios da luz do dia. A neblina cobria tudo. Estava perto da cidade, mas longe de tudo. Duas casas no fim de uma estradinha de terra pareciam cenário de filme de Bergman. Estacionou o carro, passou por entre as construções e seguiu uma pequena trilha em declive acentuado. Parou na beira de um lago - e não conseguia ver a outra margem. Respirou o ar frio da manhã e aquilo pareceu limpar toda a fuligem e o entulho da cidade grande e opressiva. Resolveu andar por aquela margem enquanto o sol, branco, tentava furar o branco da neblina. Estancou ao ver ancorado um barco simples de madeira que, cheio de água, mostrava apenas os contornos. Ele estava preso por uma corrente a uma estaca espetada num barranco. Ficou olhando aquilo como se fosse a tradução da imagem mais simples e encantadora que já tinha visto. Era muito mais do que aquele outro barquinho que encontrou numa vila do Rio Madeira, muitos anos atrás. Então, ouviu um chamado do dono da casa que acabara de acordar. Aí sentiu o cheiro do café que estava sendo coado.

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