segunda-feira, 22 de junho de 2015

O bichinho

Entrou no consultório do oncologista como se estivesse adentrando a sala de cinema para ver um filme musical dos velhos tempos. Ouviu toda a explicação do doutor sobre os perigos do câncer na próstata - e a dele estava dando todos os sinais de ter o bichinho do ham-ham, como ele costumava brincar. O médico disse que o perigo são os tipos mais agressivos, que em seis meses saem do casulo - e aí é só resta encomendar o caixão. Ele riu. Em caso de detecção a tempo, dá para fazer tratamento com raios que o partam ou cirurgia para extirpação. Nos dois casos perde-se um pouco a virilidade. Ele riu mais ainda. O especialista contou então que todos os homens que sentam naquela cadeira sempre ficam apavorados - e perguntou por que ele não. Durante 40 anos, explicou o paciente, flertou com a morte sem saber - e conseguiu sobreviver. Não tinha medo porque estava diante de um doutor que aparentava saber tudo e explicava de forma simples e direta, ao contrário dos candidatos a deus que encontrou na vida. No caso da virilidade, ele disse que, se ficasse totalmente brocha, não se incomodaria pois há muito tempo não funcionava. Nessa o homem de jaleco branco também riu. Depois de todos os exames feitos, inclusive com biópsia sofisticada, comprovou-se que o bichinho ainda não tinha aparecido. Mas ele estava preparado para a chegada. Rindo.

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