terça-feira, 3 de novembro de 2015
A macarronada da Mariquinha
Ela subiu na laje, caiu, quebrou a cabeça. Mais de 80 anos. Pau de goiabeira só enverga. Foi para o hospital, saiu do coma, voltou para casa e agora me convida para comer a famosa macarronada. A comilança faz parte do meu inventário sentimental. A primeira vez que mandei aquele grude pra dentro foi como conhecer o nirvana que vinha numa forma retangular de alumínio. Enorme. Talvez tenha sido o queijo derretido em cima, ou a carne moída com molho picante. Ou mesmo a massa, que ela mesmo fazia. Ou toda aquela maratona para chegar à casa dela, de ônibus, num lugar que até hoje lembro ter uma grande praça no ponto final. Ou mesmo o fato de ela trabalhar com o marido na feira, vendendo meias, muitas, de todos os tamanhos, qualidades e cores. Quando me telefonou e disse que me esperava para a pratada, fiquei tão feliz que quase comprei passagem de avião na hora. Senti o gosto na boca, salivei. Estou muito longe da Mariquinha. Esse o nome dela, minha tia seca de corpo e de sorriso amplo. Os filhos dizem que a queda a fez perder o juízo que já não tinha. Como não tinha? Criou os cinco e mais alguns que pegou de gente que não podia segurar o tranco. Aposto que eles, espalhados por aí, com os netos dela, também jamais esquecerão a tal macarronada. No telefonema me disse que vai esperar minha visita e que não morre enquanto isso não acontecer. Eu acredito.
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