quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Ao volante

Quantos eu poderia ter matado? Não lembro. Porque muitas vezes cheguei em casa sem saber como. Dirigindo. O possante era branco. Trafegava como um fantasma na madrugada. Se tivesse cheiro, além do da fumaça poluente, seria o da morte. Subiu barrancos, caiu em valetas, perdeu uma roda andando, atravessou sinais vermelhos, morreu num poste depois que o piloto, eu mesmo, saí do último boteco da via-sacra daquela noite. Era a Toca - e só não fui direto para o túmulo porque... Há um deus, santo protetor, anjo, nisso? Eu sabia e não sabia o que poderia acontecer. Quem bebe para morrer da vida presente não pensa nessas coisas. Nem nos outros, os que não matei e os que vejo morrer assassinados por bêbados de toda espécie. Esses loucos não sabem que são assim de nascença, no bom sentido, e que não precisam de nenhuma gota de álcool para alucinar sem colocar em risco existências, inclusive a própria. Hoje meu coração aperta quando penso em tudo que fiz. Ao mesmo tempo fico alegre porque não matei. E não morri. Deve ser porque era preciso contar para alguém, antes que este se transforme em assassino.

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