terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Disparos no funeral
No cemitério a família acompanhava em prantos o caixão baixar a sepultura. Perto dali, sorrateiro, um grupo foi chegando como se estivesse morrendo de curiosidade. Adolescentes. De repente, mais perto, sacaram o que parecia ser uma arma e começaram a disparar. Era uma máquina fotográfica. E eles iam passando de mão em mão a câmera. Cada um tentava um ângulo diferente. Teve quem quase caiu na cova. Os parentes do morto ficaram atônitos - e nada falaram. O grupo partiu pelas alamedas e desapareceu naquele fim de tarde do meio de uma semana qualquer. Depois de revelado o filme, as fotos se mostraram horrorosas. Era o começo de uma paixão e os sete meninos não sabiam dominar o equipamento e não tinham olhar de fotógrafo. Mas continuaram. A máquina era como uma deusa a guiá-los pelas mãos em aventuras onde capturariam o tempo. Foi o que fizeram desde que ela foi esquecida no banco de trás de um táxi DKW do irmão de um integrante daquela turma. Os negativos? Sumiram no tempo, assim como o equipamento. Mas o registro ficou, assim como o silêncio daquele funeral invadido.
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