segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
Coca na madruga
Fatal. Acordava no meio da noite com aquela vontade corroendo a alma. Tentava ficar pregado na cama. Impossível. Tateava no escuro e andava devagar porque o piso antigo de madeira fazia barulho e poderia acordar a mulher. Abria a geladeira. A luz ofuscava os olhos. Ele então abria a garrafa e virava no bico, tomando tudo num gole só. O líquido descia rasgando suavemente a garganta. Era aquilo que o fazia delirar. Quando não encontrava a garrafa no lugar de sempre, saía de casa no meio da madrugada e rodava a cidade a te procurar - e sempre a encontrar. Coca! Coca-Cola! Era capaz de derrubar dois litros de uma vez. Depois... bem, depois era depois. A barriga cheia, os arrotos sonoros cortando o silêncio, tudo era nada diante daqueles momentos fugazes de prazer. Até que um dia parou de beber, porque a coisa estava ficando complicada. Foram três anos até a recaída. Quando tomou de novo sentiu um gosto horrível, como se tivesse engolido um xarope de punição. Foi o suficiente para deixar de lado o refrigerante que vendem como se fosse a razão de viver. Agora, toda vez que olha aquelas montanhas de garrafas gigantes no supermercado, ele ri e vai direto comprar água mineral com gás - porque sem as bolinhas não tem graça.
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