quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Comemoração de velho
Estava velho, mas não cansado. Próstata inchada, mas sem o bichinho do ran ran. Fazia dois mil xixis por dia. Alguns na cueca, calça, calção, bermuda. O pior é que, com o tempo, tinha dificuldades de expelir o líquido. Aí, forçava - e junto saía um pum. Isso virou rotina. Em casa não tinha problema, mas em outros locais, com banheiros coletivos, sofria feito um condenado na manobra de forçar na frente sem soltar atrás. Decadência. Ainda não se acostumara a ser chamado de senhor, apesar da vasta cabeleira branca. Durante um tempo, chegava a brigar e inventar que pintava os cabelos de branco para parecer mais velho. Ria de si mesmo. Agora, chorava escondido. Não, não pensava na morte porque tinha certeza de que ela é igual ao antes de nascer. Sim, tinha cumprido à risca parte da definição de alguém que não lembrava mais (outro problema normal), que resumia assim a existência humana: nascer, foder e morrer. Mas imaginava que queimaria lenha até os cem anos, se nenhuma tragédia acontecesse. Por isso, começou a pensar para trás, no que tinha feito. Aí ficou feliz, de repente, pois o que lhe vinha na memória eram só os capítulos bons. Dito isso, foi ao banheiro. Fez xixi e soltou um poderoso. Em comemoração.
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