segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Ao dobrar a esquina

Na noite de garoa, ao dobrar uma esquina, os faróis do carro flagraram o senhor vestido todo de preto, carregando dois sacos de supermercado brancos pela calçada. No rápido instante em que eles chamaram atenção, junto vieram os questionamentos que parecem brotar do nada. Quem seria ele? O que tinha comprado para levar para casa? Família esperando ou mais um solitário na cidade grande? Os braços estavam completamente esticados. Parecia que as compras eram pesadas. Batatas? Uma garrafa de vinho barato? Material de limpeza? Alguém buzinou atrás e o pé comprimiu o acelerador. O homem ficou para trás, mas a imagem, não. Os sacos plásticos não tinham propaganda. Eram lisos e, naquele instante, luminosos, por causa da luz forte que os flagrou flanando ao lado da avenida e levados por mais um sem rosto. Quem colocou nos sacos as mercadorias depois de contabilizados os produtos pelo caixa? Idoso? A chuva apertou. O limpador do para-brisa, lento e barulhento. Ainda bem que logo estarei em casa. No porta-malas, as compras do dia. Dentro de sacos plásticos.

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