terça-feira, 17 de novembro de 2015

Piscina

Carregava barras de gelo e engradados com cervejas e refrigerantes para abastecer os barcos dos bacanas que viajavam no fim de semana. Aquilo era outro mundo - o iate clube e os frequentadores. Gente dona de avião, grandes indústrias, executivos de multinacionais. Nos intervalos, servir quem não saía, quem apenas ia para o litoral esquecer um pouco o sufoco da grande metrópole. Trabalho duro para um adolescente, mas com alguns prazeres. O filé à parmegiana, por exemplo, que o cozinheiro nordestino sempre preparava à noite - coisa que jamais tinha comido na casinha da vila nas fraldas de um subúrbio. Mas havia uma atração, que achava perigosa: a piscina que ficava bem diante do restaurante onde trabalhava. Muito tempo depois de ter iniciado sua jornada ali, tomou coragem. Levou um calção mequetrefe na pequena bolsa que carregava, acordou de madrugada, levantou do colchonete onde dormia no chão do estabelecimento, foi ao banheiro, saiu em traje de banho, pé ante pé, para não acordar ninguém, subiu os degraus que davam para a borda daquele piscinão e ficou olhando o brilho da água sob a luz de uma lua enorme. O coração na boca, colocou a ponta mediu a temperatura com o dedão do pé direito. Fria. Foi até a escadinha de metal, mas não teve coragem de entrar. Resolveu pelo pior: ao lado, havia um estrado com metro e meio acima do nível da piscina - e uma calçada larga separava-o da água. Ele subiu e decidiu que iria tomar distância, correr, voar por cima do espaço com piso de pedra para cair na água. Fez, mas demorou muito para tomar a decisão. O medo era grande. Mas não o impediu. Saltou, mergulhou, foi ao fundo, saiu ofegante, descobriu que não sabia nadar, mas saiu dali com uma das maiores experiências da vida. A lua acompanhou tudo. Ninguém mais soube. Ele guardou para sempre a sensação inédita. Era sua primeira piscina. Tinha 15 anos.

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