segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Aposentadoria
Trabalhou mais de quarenta anos e, como era relaxado, em alguns empregos fez acordo de boca e não contribuiu para a chamada previdência. Pensava que teria saúde e emprego toda a vida. Coisa de louco. Um dia se tocou - e foi atrás dos seus direitos, como falam. Sempre ganhou bem, mas ao contratar um especialista para levantar o histórico de contribuições e fazer projeções, descobriu que teria de camelar mais alguns anos, pagar uma fortuna para ter direito a uma aposentadoria - e que ela seria de um salário mínimo, ou seja, o que poderia gastar numa pequena viagem até o litoral do estado onde morava. Mesmo assim, ficou feliz. Porque recebia tanta notícia ruim e também tanto desprezo no meio onde exercia a profissão, que projetou seu futuro negro para logo ali adiante, ou seja, bem antes de poder receber os caraminguás. Estava ferrado e mal pago. Por isso imaginou que o dinheiro que um dia entraria na conta vinda dos cofres do governo federal daria, sim, para comprar uma boa dose de veneno de rato.
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