Mantenho em cativeiro um verme que se chama Augusto dos Anjos. Encontrei-o por acaso em uma de minhas peregrinações por cemitérios. Gosto do ambiente. Me dá paz interior saber que um dia a escuridão chega e tudo acaba. Volto a ser como antes de nascer. O problema é quando essa hora vai chegando para quem se arrasta pelos anos e vai definhando. Por isso, ao ver o bichinho se arrastando para fora daquele túmulo esquecido, sem identificação, por uma rachadura, resolvi tomar conta dele. Alimento-o com carne podre, mas não humana. Por enquanto. Teve um dia que, juro, percebi que ele sorriu satisfeito depois da refeição. Ainda não sei porque mantenho o tal. Talvez seja sinal da insanidade chegando com a idade e esta minha convicção de que a vida é uma enganação dos diabos. Apenas uma pessoa sabe sobre essa criatura que me faz companhia na solidão. Estava numa dessas praias de cartão postal e, no dourado do final da tarde, ouvi a frase: "O crepúsculo da vida não tem cor - tem dor". Aí contei sobre o Augusto dos Anjos. O outro achou o máximo, mas insistiu em conhecer meu bichinho. Desconversei. Ele tinha dono até aparecer para mim. Agora é o meu começo do fim.
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