segunda-feira, 2 de maio de 2016
Quarenta anos de maconha
Depois de quarenta anos de uso, a maconha lesa. Um fio de baba escorrendo no canto da boca pode ser um sinal. A fala arrastada, em ritmo de câmera lenta, outro. Ele estava com as duas características, além do fato de não achar que aquilo era vício. É da natureza, não faz mal, repetia enquanto enrolava mais um. Sua performance em números de cigarros fumados por dia estacionou nos trinta. Ele dava bola até para fazer cocô, ou seja, achava que sentiria melhor todo o processo - inclusive o cheiro. Acendia o primeiro ainda na cama, para tornar o dia mais interessante. Depois, para tomar o café da manhã, escovar os dentes, etc. Até no banho tragava. O resto, todo maconheiro sabe como é. Não mandava pra dentro a cannabis para o sexo porque não fazia mais. Brochou completamente e achava que isso era um sinal dos deuses e o caminho para o Nirvana - não a banda de rock do suicida. Abobalhado, foi internado pela família porque não conseguia produzir mais nada, só dizer "É isso aí, sacou?" Não sacaram e não tinham mais saco para a coisa. Ele não recusou o internamento. Achou que dentro do hospital iria escrever uma versão atualizada do "Bicho de Sete Cabeças". Não deu tempo. Saiu da casinha antes e nunca mais da cama.
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