quinta-feira, 23 de junho de 2016

Enigma

Fui procurar o hotelzinho no meio do nada naquela estrada só de retas intermináveis. Talvez por causa das piadas do Mineirinho, sei lá. Achei, na Belém-Brasília. A noite chegando, estacionei o carro, notei que não havia mais nenhum veículo, entrei e um senhor de sorriso franco me atendeu. Havia todo tipo de quarto, porque eu era o primeiro a chegar naquele dia, naquela semana, naquele mês, naquele ano. Perguntei a ele como sobrevivia. Com o rosto me apontou uma máquina encostada na parede. Parecia uma jukebox, mas não havia música ali. Ele pediu para eu apertar o botão verde. Fiz isso. Não aconteceu nada, mas imediatamente me deu uma sensação de bem estar, de dever cumprido e... uma preguiça! O senhor disse que era assim mesmo e que foi um viajante estranho que deixou o trem ali, sem cobrar nada. Ele, o dono do hotel, apertava o botão todo dia logo cedo. Há décadas. E ficou feliz, com ou sem hóspedes. Coisa estranha, mas muito boa. No outro dia eu lhe disse, antes de apertar o botão verde, que aquilo era um enigma, uma coisa enigmática, mas com certeza o inventor era certamente um vagabundo daqueles, no bom sentido. Aí eu apertei o botão. É o que faço há anos. Eu e o dono do hotelzinho na reta da Belém-Brasília.


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