segunda-feira, 6 de junho de 2016

Última noite

Não tenho muito tempo de vida. Não, não é como na piada do Miojo, aquela dos três minutos e o que fazer, doutor? Ainda há uma noite. Mas como vou dormir? Poderia tomar um remédio daquele do Michael Jackson, mas o doutor não quis me receitar. Disse para eu aguentar firme. É sempre assim. Estes professores de Deus falam numa calma absurda, mas quando o calo aperta eles não vão se consultar. Conheço a raça. Por que tinha que acontecer isso logo agora que começo a conhecer as delícias da vida? É muito azar! Tomo um banho quente, pelando, abro a torneira fria, fico elétrico, me enxugo, vou para cama nu, entro embaixo das cobertas cheirosas e fico esperando a hora. Nada de dormir. Coloquei o despertador, daqueles antigos, só para me precaver. Sabia que não conseguiria pregar os olhos. Como, numa situação dessa? Vou embarcar daqui a pouco. O martelinho do geringonça começa a fazer barulho e eu realizo um sonho: arremesso o relógio contra a parede, com toda força. Talvez meu último ato violento. Então, me troco e vou. De táxi. Para onde? Ora, para o aeroporto. O vôo é às seis e tenho de estar lá às cinco. É o primeiro que faço na vida. Antes, sempre evitei. De medo. Agora, não dá mais. Adeus.

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