segunda-feira, 13 de junho de 2016

Rondon

Cobertor sobre as pernas, óculos de lentes grossas, fica vendo televisão durante um bom tempo. Gosta dos noticiários. Não fala nada, apenas balança a cabeça negativamente com a sequência de tragédias, roubalheiras, o incompreensível linguajar sobre economia e a idolatria por qualquer idiota que chute uma bola ou solte gemidos em forma de música de corno, como ele diz. O espaço que dão à previsão do tempo é outro absurdo que ele condena, mesmo porque jamais vai sair dali para enfrentar o calor infernal do sertão do Piauí. Mas outro dia ele levantou da poltrona para esbravejar. Nos temporais que derrubaram árvores em algumas grandes capitais, ele fez um discurso dizendo que tudo aquilo era coisa do homem, não da natureza. Lembrou então o longo período que passou na selva e garantiu que, apesar das chuvas constantes, nunca viu uma árvore caída pela força das águas que vinham do céu ou do vento. Depois, se acalmou, sentou de novo, olhou para o lado e pareceu dar uma piscadela para a foto do Marechal Cândido Rondon que tem em cima de uma estante e de quem foi grande amigo.

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