quinta-feira, 9 de junho de 2016

Pelos

Os pelos do nariz saíam para fora. Nunca notei, mesmo porque não me olhava no espelho com medo do que poderia ver. Tinha cabelo comprido e barba enorme. Me escondia também com óculos escuros. No pinel um psiquiatra disse isso. Não gostei. Tirei tudo. Quase tudo. Ficaram os pelos do nariz. Tentei cortar com uma tesourinha pontiaguda. Furei uma das paredes internas da "nasa". Saiu muito sangue. Lembrei de um dia no banheiro do boteco - um tiro, e o sangue escorrendo sem eu perceber. Quem estava comigo na mesa se assustou. Mas isso é outra coisa. Os pelos, me disseram, me deixavam com a aparência de quem tinha duas tarântulas querendo sair dali. Um dia, numa farmácia, vi uma maquininha especial para aparar os tais. Comprei. Fui para casa, liguei e enfiei no buraco do meu lado direito. Aconteceu um problema. Houve um enrosco e a máquina foi lá pra dentro. Acho que atingiu meu cérebro. Desde então tenho visões e já fiz uma planta seca pela geada voltar a ser verde. A história se espalhou. Tem fila na porta de casa. Acham que eu sou santo. O problema é que parte da máquina de cortar pelos ficou para fora do nariz. Não sei se os estranhos vão entender o que aconteceu.

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