segunda-feira, 27 de junho de 2016
Não pedi
Estava morto lá nos confins e não pensava nada. Aí me chamaram - e não houve tapa na bunda. Me arrancaram com ferros e ouvi os gritos de alguém. Depois disseram que era minha mãe e que meu pai tinha ajudado a me dar vida e tirar do escuro. Que coisa esquisita! Todo mundo nasce assim, mas antes inventam uma história de cegonha que é uma ave e até hoje não sei como ela arruma aquele pano para pendurar no bico para voar carregando gente. Quer dizer que se ela passa numa zona de conflito no Oriente, baubau? Já me atrapalhei nos pensamentos. Antes não tinha nada disso. Eu não incomodava ninguém - e vice-versa. Fui para as escolas e de tudo o que aprendi, utilizei só três das operações matemáticas. Eu queria ser artista porque um dia vi um quadro do Siron Franco. Mas nem pintar o sete eu sei. Fiquei distante do mundo, ouvindo música, comendo sanduíche de queijo e salaminho com manteiga. Disseram que eu tinha de trabalhar. Reclamei no velho estilo de que eu não pedi para entrar nessa barafunda. Nem ligaram. Agora tenho de ir. Me deram um emprego no governo. Não preciso fazer nada. Ainda bem.
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