quinta-feira, 11 de julho de 2013
Margarida
Os olhos dele irradiavam pavor. O cano da arma estava apontada para o meu peito. Ele, fardado e espremido entre centenas de colegas da tropa. Eu, de camiseta branca, a velha calça Lee, tênis surrado e uma vontade imensa de gritar contra. O que? Importava? A flor estava na mão porque os mais ousados carregavam flores para oferecer ao inimigo da hora. Era uma margarida que roubei no caminho até o ponto de encontro. Tinha um caule grande - e eu queria colocar naquele cano de fuzil. O dedo dele estava no gatilho. Eu não tinha medo de nada naqueles anos loucos. Então fiz o gesto de enfiar aquela flor naquela arma de fogo. Fogo! Ele disparou e eu não vi mais nada. Fui jogado para trás com o impacto do tiro à queima-roupa. Isso me contaram depois que descobri que a bala só varou um músculo. Também soube que o menino que apertou o gatilho foi promovido e que a nossa passeata em defesa de ser contra acabou naquela hora. Foi pouco depois de eu descobrir que ele estava apavorado. E ninguém soube dizer onde foi parar a margarida.
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