quarta-feira, 10 de julho de 2013

Poema da redenção

Escreveu, escreveu e escreveu até os dedos sangrarem. Esgotou a alma e o pensamento em busca do poema. Mas não era poeta. Escrevia, lia, rasgava o papel e jogava-o no chão ao lado da mesa no porão úmido e sombrio. Quase não comia. Quase não via a luz do dia. Perdeu a noção do tempo. Não falava com mais ninguém. Obcecado pela busca interna, imaginava que algo aconteceria para guiar seus dedos e os traços a desenhar letras. Era a salvação que procurava. Queria sair do inferno ainda em vida. Mas nada acontecia. Só sangue, tormento e uma montanha de papeis amassados. Se um dia escrevesse aquele poema, faria três cópias e enviaria aos três filhos que teve na vida. Mas o texto teria de ter a força capaz dele receber o perdão. O perdão pelo que não foi.

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