sexta-feira, 5 de julho de 2013
Olhos de assassino
Na beira do rio, no meio da floresta, o estranho deu a senha. Olhos de assassino. E eu ali me arrastando nas trevas da doença da alma, tentando ver beleza no que era belo e de força absurda. Aquilo ficou gravado como se fosse um código, que poderia ser acessado a qualquer hora, para deflagar o desconhecido. Os contos de Rubem Fonseca vieram apenas completar. Ele sabia! Ele sabia! A necessidade de ceifar vidas desconhecidas para não ter remorso. Apenas ceifar, como um deus ou um diabo vestido de ser humano. Os olhos do assassino tomaram conta numa noite qualquer, de tédio, de televisão jogando lixo na cara, de comida gelada, de café requentado, de ninguém para conversar, de saco cheio de tudo. Quando voltei para casa, o coração aos pulos, tinha feito, mas não sabia direito o quê. Lembrava do barulho do tiro e do movimento de me virar rápido e sair correndo na rua escura e deserta. Quem foi? Quem seria? Nada. Lawrence da Arábia na cena em que diz ter gostado de matar. Os olhos de assassino voltaram no dia seguinte para ver a cena. Não havia marcas. Ninguém tinha ouvido nada. Os jornais e rádios também não noticiaram. Comecei a desconfiar que tinha entrada em delírio. Ou talvez que tenha disparado contra minha própria cabeça.
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